Literatura e Sociedade N.15 (2011)

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Literatura e Sociedade N.15 (2011)

 

A Revista Literatura e Sociedade está disponível online no Portal de Revistas da USP. Confira o conteúdo completo destenúmero, acessando nossa página: http://www.revistas.usp.br/ls/issue/view/5278

 

 

Editorial

 

           Já na década de 1970, o crítico britânico Raymond Williams apontou um aspecto crucial da experiência contemporânea, ao dizer que vivemos em uma sociedade dramatizada. Os indícios disso encontram-se em toda parte: representações, tipificações, imagens, personagens a serem representados e que as pessoas de fato representam ou se recusam a representar. O próprio vocabulário proveniente do teatro, como “papel”, “cenário”, “tragédia” etc., já incorporado à linguagem corrente, comparece com naturalidade no jornalismo, no discurso político, na conversa cotidiana, para descrever práticas sociais, conjunturas ou acontecimentos. Longe de serem abstratas, continua o crítico, as convenções desses modos de dramatização – um país, uma sociedade, um período histórico, uma crise civilizacional – são elaboradas e reelaboradas incessantemente nas relações vivas e efetivas. Por isso, Williams aposta na crítica de dupla perspectiva, em que a análise do drama permite observar certos elementos particulares da sociedade, bem como as convenções que, agrupadas, representam a sociedade; e, por sua vez, essas convenções fazem que os problemas do drama se tornem renovadamente agudos e atuais.

           Este número duplo de Literatura e Sociedade é dedicado ao teatro, sobretudo o moderno e o contemporâneo, e visa a pôr em discussão algumas questões, obras e autores significativos do campo teatral, e, talvez, os próprios modos de discuti-los. Assim, pensar o teatro em suas variadas formas e pensá-lo de maneiras diversas, além de serem atividades acadêmicas, são também práticas sociais que fazem parte do quadro sumariamente esquematizado acima, uma vez que não deixam de ser modos de organizar a imaginação e pensar a sociedade.

           A revista se abre com um panorama histórico em que Iná Camargo Costa faz ver as articulações entre as peças de autores como Ibsen, Tchekhov, Strindberg, Hauptmann, Toller e Brecht. Logo após, o leitor encontrará um ensaio de Franco Moretti sobre Henrik Ibsen, em cuja obra o crítico busca ressaltar aspectos da sociedade burguesa então em processo de consolidação, nos quais se podem entrever questões vivas para a atualidade. Na sequência, são apresentados dois artigos sobre autores decisivos na dramaturgia de língua alemã: um estudo de Tercio Redondo sobre peça inacabada de Georg Büchner, em que se investiga a profundidade social das questões formais de Woyzeck; e, de Luciano Gatti, uma discussão da peça de aprendizagem, a partir da leitura de A medida, de Bertolt Brecht. Em seguida, Maria Sílvia Betti se debruça sobre a obra de Tennessee Williams, examinando nela o problema, central no drama moderno, da representação do sujeito sufocado em seus próprios impasses. Ainda no campo da dramaturgia norte-americana, Mayumi Ilari Defina apresenta ao leitor uma prática contemporânea do teatro político, posta em ação pelo Bread and Puppet Theater. Dirigindo o olhar para os séculos XVII/XVIII, Ana Portich comenta peças de Giovan Battista Andreini e Jean-Jacques Rousseau, nas quais o mito de Narciso e o tema do espelhamento se associam a aspectos políticos.

           No terreno do teatro brasileiro, este número traz um balanço da obra de Augusto Boal, na perspectiva de Cláudia de Arruda Campos. Em seguida, Walter Garcia analisa uma canção de Chico Buarque em correlação com Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. A seção “Ensaios” se fecha com dois textos sobre grupos brasileiros atuais: Alexandre Mate relembra o percurso do grupo Engenho, destacando a agudeza política de seus espetáculos; e Gustavo Assano apresenta a trajetória do Folias d’Arte, em apanhado de seus momentos significativos.

           Na seção “Entrevista”, este número de Literatura e Sociedade estampa um depoimento de Paulo Eduardo Arantes, originalmente publicado em 2007, em que o filósofo reflete sobre os recentes grupos teatrais paulistanos e seu significado no cenário histórico atual.

           Por fim, a seção “Rodapé” oferece ao leitor a possibilidade de ler (ou reler) dois artigos de Mário de Andrade, originalmente publicados em jornal no ano de 1943. Neles, Mário discorre sobre o teatro cantado e dá testemunho de sua própria experiência na composição do poema dramático Café.

           Como de costume, a seção “Biblioteca” divulga publicações dos docentes do DTLLC, listando, neste número, a produção publicada em 2010.

COMISSÃO EDITORIAL

 

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SUMÁRIO

 

ENSAIOS

14 • Transições

INÁ CAMARGO COSTA

42 • A área cinzenta: Ibsen e o espírito do capitalismo

FRANCO MORETTI

56 • Tempo e trabalho em Woyzeck, de Georg Büchner

TERCIO REDONDO

68 • A medida, de Brecht: um exercício de postura

LUCIANO GATTI

94 • Mr. Paradise and other plays, de Tennessee Williams:

apontamentos para uma análise formal

MARIA SÍLVIA BETTI

122 • Pão e arte nas sendas do teatro norte-americano,

da contracultura ao WikiLeaks

MAYUMI D. S. ILARI DEFINA

134 • O espectador como Narciso, o teatro como espelho.

Considerações sobre as peças Amor no espelho, de Giovan

Battista Andreini, e Narciso, de Jean-Jacques Rousseau

ANA PORTICH

144 • Certo Augusto Boal

CLÁUDIA DE ARRUDA CAMPOS

160 • Apontamentos sobre uma canção para teatro:

“Funeral de um lavrador”

WALTER GARCIA

174 • Do Apoena ao Engenho – um entre tantos outros grupos

de teatro cujas experiências esperam por ser documentadas

ALEXANDRE MATE

180 • Périplo de ajuntados: um esboço da trajetória

do grupo teatral Folias D’Arte

GUSTAVO ASSANO

 

ENTREVISTA

200 • PAULO EDUARDO ARANTES

 

RODAPÉ

208 • Do teatro cantado

MÁRIO DE ANDRADE

212 • Psicologia da criação

MÁRIO DE ANDRADE

 

BIBLIOTECA

218 • Publicações do Departamento em 2010

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