Literatura e Sociedade N.11 (2009)
A Revista Literatura e Sociedade está disponível online no Portal de Revistas da USP. Confira o conteúdo completo deste número, acessando nossa página: http://www.revistas.usp.br/ls/issue/view/1490
Editorial
Este é o primeiro de dois números de Literatura e Sociedade, revista do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), centrado em estudos da obra teórico-crítica de Antonio Candido. E é por esse intermédio que rendemos a ele nossa homenagem. Optando por um debate diversificado e tendo como eixo uma das linhas de pesquisa do departamento – literatura e sociedade –, os números 11 e 12 da revista reúnem intelectuais do Brasil e do exterior. Consideramos o debate por diferentes abordagens e perspectivas críticas, contando com a colaboração de pesquisadores e estudiosos de diversas universidades do Brasil – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), USP – e do exterior (Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Itália, Inglaterra, Alemanha). As leituras contemplam várias áreas das humanidades, incluindo Sociologia, Historiografia, Filosofia, Antropologia, Dramaturgia, porém, a maior concentração dos estudos situa-se no campo da Literatura e da Crítica Literária. Os textos enviados em castelhano foram mantidos na língua de origem. Essas discussões ora se voltam para uma obra específica de Antonio Candido, ora se atêm a um determinado ensaio, ora focalizam um conjunto de análises interpretativas. Entre as obras destacadas estão: O observador literário; Formação da literatura brasileira; O método crítico de Sílvio Romero; A educação pela noite e outros ensaios; Presença da literatura brasileira; Tese e antítese; O discurso e a cidade; Vários escritos; Recortes; O albatroz e o chinês; Teresina etc.; Um funcionário da monarquia; Os parceiros do rio Bonito.
Seguindo diretrizes da revista, os trabalhos foram ordenados em três partes distintas: Entrevistas, Ensaios e Depoimentos. À feição de um vestíbulo, está a seção Entrevistas. Para essa abertura de Literatura e Sociedade 11, foram definidas e encaminhadas três perguntas a intelectuais que atuam em universidades do exterior: Beatriz Sarlo (Universidad de Buenos Aires), Candace Slater (Berkeley University), John Gledson (Liverpool University). Do Brasil, respondendo ao mesmo questionário, temos: Alfredo Bosi (USP), Iná Camargo Costa (USP), Davi Arrigucci Jr. (USP), Silviano Santiago (UFRJ), Roberto Schwarz (UNICAMP). O segundo bloco, formado pela seção Ensaios, dá forma ao corpo mais amplo da revista. Foi subdividido em cinco partes para as quais convergem diferentes obras e temas, identificados em: Passagens; Literatura e sociedade; Aspectos da Formação; Dinâmicas do texto; Resenhas. O texto inicial de Passagens é o ensaio "Antonio Candido e a Faculdade de Direito", de Celso Lafer. Nele, o crítico discute a relevância da Faculdade de Direito na trajetória intelectual de Antonio Candido, observando caminhos de sua formação. Tal mapeamento põe em destaque discussões sobre escritores do romantismo brasileiro, formulações estéticas, e outras que enfeixam a literatura como direito do cidadão. Na sequência, Lilia M. Schwarcz apresenta "Introdução ou sobre segundos escalões", que, como o próprio título indica, remete a uma obra de Antonio Candido, publicada em 2002, Um funcionário da monarquia. Ensaio sobre o segundo escalão, na qual se inclui biografia e percurso político de Nicolau Tolentino. O ensaio aborda temas relativos a práticas do favor, conservadorismo, entre outras questões que envolvem a sociedade no Brasil do Segundo Império. Nesse andamento, destaca-se ainda "Sílvio Romero (a crítica e o método)", ensaio em que Antonio Arnoni Prado desvenda formulações de Antonio Candido, com respeito a abordagens sociológicas e a elementos literários, presentes num consagrado estudo sobre o crítico pernambucano. Nessa sucessão, encontra-se o tópico Literatura e sociedade, pondo em evidência o ensaio "Esquema argentino de Antonio Candido" em que Adriana Amante retoma a obra Literatura e sociedade, debatendo a produção do crítico e o alcance de sua reflexão para o entendimento de problemas relativos ao estudo da literatura argentina. Segue-se "A reflexão literária e política como acumulação", de Salete de Almeida Cara, apresentando os primeiros ensaios de crítica literária de Antonio Candido, reunidos em Brigada ligeira (1945), que tinham sido publicados no jornal Folha da Manhã. Seu argumento é o de que os referidos escritos representam uma das bases para a formulação do método de leitura que o crítico logo depois irá desenvolver. De outra parte, Benjamin Abdala Jr. examina o texto "Literatura e subdesenvolvimento" de A educação pela noite & outros ensaios, em "Desenhos do crítico, inclinações da crítica". Centrando-se nesse texto escrito em plena ditadura militar brasileira, o crítico valoriza o ineditismo de Antonio Candido, que focaliza a América Latina como um bloco cultural com traços em comum, apontando, ao mesmo tempo, para especificidades locais. Com foco na dramaturgia, encerra o segundo conjunto analítico "A dialética de Ricardo II", texto em que Sérgio de Carvalho traz para a frente dos debates o ensaio "A culpabilidade dos reis". Com ênfase na compreensão materialista do pensamento crítico de Antonio Candido, sublinha dinâmicas que envolvem a relação entre forma literária e problemas de natureza social. No terceiro bloco, Aspectos da Formação, situam-se alguns estudos em torno de uma obra específica. Na abertura, o ensaio "A Formação e a história fraturada: uma dupla aproximação", elaborado por dois críticos italianos, Ettore Finazzi-Agrò e Roberto Vecchi. Para ele confluem duas visadas críticas da obra de Antonio Candido, conjugando a ideia de formação e a de sistema literário na genealogia da literatura brasileira. O ensaio do crítico argentino Gonzalo Aguilar postula em "Antonio Candido y David Viñas: la crítica literaria y el cierre del pasado histórico" uma leitura comparativa entre as obras Formação da literatura brasileira e Literatura argentina y realidad política, focalizando dois importantes fundadores da crítica moderna latino-americana. Publica-se o texto na língua em que originalmente foi escrito. Esse elenco de textos se fecha com "Formação, hoje - Uma hipótese analítica, alguns pontos cegos, e seu vigor". Nele, Luís Augusto Fischer discute o conceito de formação e noções sobre a nacionalidade, observando-os de diferentes perspectivas. No conjunto, Dinâmicas da obra, uma crônica de Telê Ancona Lopez, "A literatura como direito", põe em destaque a literatura como uma importante dimensão para a vida, por sua força humanizadora, tendo no horizonte de suas conjecturas a obra Vários escritos de Antonio Candido. De outra parte, o texto elaborado por Maria Augusta Fonseca, "Batuque: cultura e sociabilidade", reaviva um artigo de Antonio Candido quase desconhecido da crítica, "Opinião e classes sociais em Tietê", publicado em 1947, tendo como foco a receptividade de uma festa da cultura popular afro-brasileira – "o batuque de umbigada". Em Resenhas, situam-se dois estudos já divulgados e que são de total relevância para este debate sobre a produção de Antonio Candido. A primeira resenha, escrita por Murilo Marcondes de Moura, ilumina aspectos de Recortes, mostrando, no quadro de variedades de obras e autores, diversos movimentos da crítica, que passam da investigação de um panorama geral às questões específicas. De outro lado, em "Retrato do crítico jovem. Textos de Intervenção", Sérgio Miceli apresenta a coletânea de dois volumes organizada por Vinicius Dantas, de que também faz parte Bibliografia de Antonio Candido, com enfoque na coerência e ao mesmo tempo no processo transformador de pontos vista crítico, tanto conceitual quanto analítico. A seção Depoimentos, que compõe a última parte desse aparato de reflexões, conta com José Aderaldo Castello em "Parceria crítica: Presença da literatura brasileira", que, numa ampla exposição, mostra facetas da amizade e do convívio entre os dois intelectuais na academia. Dessa proximidade, resultou um estudo de grande fôlego, Presença da literatura brasileira. Na explanação de Carlos Vogt, "Depoimento sobre a formação do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp", encontram-se muitas outras dimensões da figura de Antonio Candido como professor, orientador, idealizador e executor de projetos fecundos voltados para o ensino, a pesquisa, em prol do cidadão e da instituição pública. Por fim, publica-se um discurso de saudação proferido por Aldo de Lima (UFPE) em maio de 2009, na USP, por ocasião da outorga do título de Doutor Honoris Causa ao Professor Antonio Candido, concedido pela Universidade Federal de Pernambuco.
A revista comporta ainda a seção Biblioteca, indicando Publicações do Departamento, referentes ao ano que a antecede, 2008, incluindo livros, capítulo de livros e produção ensaística em revistas indexadas. Em Apêndice, encontra-se a relação de autores e títulos publicados na Revista, desde o seu primeiro número.
Sumário
Entrevistas
Beatriz Sarlo
Candace Slater
John Gledson
Alfredo Bosi
Iná Camargo Costa
Davi Arrigucci Jr.
Silviano Santiago
Roberto Schwarz
Ensaios
passagens
62 • Antonio Candido e a Faculdade de Direito
Celso Lafer
80 • Introdução ou sobre segundos escalões
Lilia Moritz Schwarcz
96 • Sílvio Romero (a crítica e o método)
Antonio Arnoni Prado
literatura e sociedade
112 • Esquema argentino de Antonio Candido
Adriana Amante
128 • A reflexão literária e política como acumulação
Salete de Almeida Cara
142 • Desenhos do crítico, inclinações da crítica
Benjamin Abdala Junior
156 • A dialética de Ricardo II
Sérgio de Carvalho
aspectos da Formação
164 • Formação hoje – uma hipótese analítica, alguns pontos cegos e seu vigor
Luís Augusto Fischer
186 • Antonio Candido y David Viñas: la crítica literaria y el cierre del pasado histórico
Gonzalo Aguilar
196 • A formação e a história fraturada: uma dupla aproximação
Ettore Finazzi-Agrò e Roberto Vecchi
dinâmicas da obra
216 • A literatura como direito
Telê Ancona Lopez
220 • Batuque: cultura e sociabilidade
Maria Augusta Fonseca
resenhas
240 • Recortes
Murilo Marcondesde Moura
248 • Retrato do crítico jovem
Sergio Miceli
Depoimentos
256 • Parceria crítica: Presença da literatura brasileira
José Aderaldo Castello
264 • Antonio Candido na Unicamp
Carlos Vogt
274 • Crítica do esclarecimento
Aldo de Lima
280 • Biblioteca
Publicações do Departamento
283 • Apêndice
Comissão editorial
Cleusa Rios Pinheiro Passos (coord.)
Ana Paula Pacheco
Betina Bischof
Organizadora
Maria Augusta Fonseca